Imagens pensantes do indígena brasileiro no filme Rituais e Festas Bororo, de Luiz Thomaz Reis (1917)

Beatriz Avila Vasconcelos


Palavras-chave: Cinema etnográfico; Indígena brasileiro; Pensatividade das imagens

Participação: on-line

Considerado, por alguns estudiosos, o primeiro filme etnográfico do mundo, Rituais e Festas Bororo, realizado em 1917 pelo militar brasileiro Luiz Thomaz Reis, cinegrafista e chefe do Serviço de Fotografia e Cinematografia da Comissão Rondon, movimento expedicionário científico e colonizador brasileiro capitaneada por Marechal Cândido Rondon, servirá aqui como um lugar de partida para provocar uma reflexão sobre os modos de enquadrar e pensar os corpos indígenas dentro das artes e tecnologias que se puseram a serviço do olhar do colonizador para o indígena brasileiro no século XIX e início do século XX, buscando evidenciar memórias e modos de ver da colonização que subjazem às imagens do filme. Tendo como material de base alguns frames do filme, utilizo-me do dispositivo do cruzamento de imagens, proposto por Etienne Samain, o qual se apoia no legado warburguiano do pensamento por montagem e da ideia de Pathosformel para afirmar, juntando-se a Georges Didi-Huberman, a pensatividade intrínseca das imagens. Toda imagem é “uma forma que pensa”, diz Samain, e para que elas revelem seus pensamentos é preciso coloca-las em relação, em cruzamento. Ao provocar, por meio da aproximação, do atrito, do choque, relações entre frames de Rituais e Festas Bororo com outras imagens de indígenas e sujeitos colonizados na história da arte colonial, busco compreender as imagens do filme como “memória de memórias , um grande jardim de arquivos vivos, mais do que isso: uma ‘sobrevivência’, uma ‘supervivência’” (SAMAIN 2012, p.22), capaz de revelar, “em termos sintomais e fantasmais” (DIDI-HUBERMAN, 2013, p.55) a ressurgência de um páthos imagético do índio brasileiro. Assim, paradoxalmente, este dispositivo do cruzamento de imagens, ao mesmo tempo em que desmonta a narrativa de superfície que o filme sustenta, tem o poder de re-montar a história subjacente e silente das formas, dos modos de ver e das relações de captura – fotográfica e cultural – que as imagens revelam.


Bio


Beatriz Avila Vasconcelos - Mestre em Letras Clássicas (Universidade de São Paulo) e Doutora em Filologia Clássica pela Universidade Humboldt de Berlim. Atua como Professora Adjunta do Bacharelado em Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Artes do Vídeo da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), em Curitiba, Brasil. Dedica-se a estudos da imagem e do discurso no cinema e a teorizações e estéticas de cineastas, com particular interesse nas relações entre cinema e poesia, regimes de imagem e modos de ver de cinemas poéticos como cinemas de atenção. Possui pesquisas acerca do cinema pioneiro paranaense, com ênfase em aspectos discursivos e imagéticos dos cinejornais. É líder do Grupo de Pesquisa em Arte, Cultura e Subjetividades (GPACS - CNPq/Unespar). Escreve poesia e dramaturgia.


VOLTAR
^