Palavras-chave: Imagem; Memória; Cidade
Participação: on-line
A produção e a circulação de imagens colonizadoras é um dos dispositivos que contribuem para naturalizar o modelo normativo e hegemônico de vida e de cidade. A abundância dessas imagens produzem subjetividades e privilegiam a apreensão e percepção do mundo por meio de formas de representação que soterram existências, saberes e espacialidades. São muitas as imagens que movimentam os desejos, condicionam os modos de ver e criam um solo impermeabilizado onde se ocultam os muitos tipos violências: genocídios, etnocídios, epistemicídios, ecocídios, urbanicídios.
No entanto, fora ou para além das cidades normativas existem, em diversos territórios, os povos que sobrevivem de forma menos, nada ou contra-predatórias ou pertencem a epistemologias avessas. Povos estes que reexistem ao longo de séculos de construção e perpetuação das distintas formas dominantes de poder. São e produzem as imagens insurgentes, dissidentes e discordantes. Imagens potenciais (AZOULAY, 2018)1 que movimentam a política, o sensível, rompem com o ordenamento e a distribuição policial do mundo e criam um espaço específico de partilha, onde se pode ver o que não era visto, onde se pode apreender o que não podia ser apreendido (RANCIERE, 2009)2.
A partir das reflexões por imagem que a dançarina Ana Pi desenvolve no pequeno vídeo-pesquisa “PPP_Nós somos o centro”3 colocamos em paralelo algumas imagens fotográficas e imagens narradas produzidas no contexto europeu e latino americano, mais precisamente o acervo coletivo produzido por Valéria Borges, moradora da Favela Pedreira Padro Lopes em Belo Horizonte, Brasil e outros da freguesia de Marvila, Lisboa, Portugal. Pretendemos refletir sobre as transformações urbanas e sociais presentes em ambos territórios e suas relações com as memórias e esquecimentos envolvidos nas experiências liminares e configurações de microterritórios de resistência (FORTUNA, 2012). O objetivo é movimentar e visualizar os links transatlânticos que unem as praticas espaciais daquilo que ocupa o dentro-fora da cidade, o dentro-fora do centro, o contra-colonialismo (BISPO, 2015)4. As espacialidades distantes que se conectam nas imagens, nas suas narrativas e na luta por pertencimento, por memória, pelo direito a cidade e a vida.
AZOULAY, Ariella Aïsha. (2014) Historia potencial y otros ensayos.
Ciudad de México: Conacultura.
CUSICANQUI, Silvia Riviera. (2015)Sociología de la imagen :
ensayos . - 1a ed. - Ciudad Autónoma de Buenos Aires : Tinta
Limón.
KILOMBA, Grada. (2019) Memórias da Plantação: episódios de racismo
cotidiano. Rio de Janeiro: Editora Cobogó.
RANCIÈRE, JAQUES; tradução MARQUES, ngela (2021). O Trabalho das
Imagens Conversações com Andrea Sonto Calderón. Belo Horizonte:
Chão da Feira.
SANTOS, Antônio Bispo. (s/d) Quilombo Modos e Significados. Saco/
Curtume - São João do Piauí – PI.
Priscila Musa é fotógrafa, arquiteta e urbanista. Conflui em
quatro coletivos que abordam suas inquietações sociais de
diferentes formas, abrangendo desde o futebol de rua - como
incentivo à ocupação do espaço público - até a fotografia e o
cinema – potencializadora das dissidências sociais e das
desobediências de gênero. Doutoranda no Programa de Pós-graduação
em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas
Gerais, UFMG (2017), Mestre pelo mesmo Programa (2015). Pesquisa
historiografia urbana, a produção de imagens e memória a partir da
perspectiva de outros saberes, da periferia e dos movimentos
sociais. É integrante do grupo de pesquisa Cosmópolis, da
Associação das Arquitetas sem Fronteiras Brasil-ASF BRASIL e do
Espaço Comum Luiz Estrela.
Carolina Anselmo é doutoranda do programa Cidades e Culturas
Urbanas, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. O
programa está integrado no Centro de Estudo Sociais e sua
investigação é financiada pela FCT. É graduada em Arquitetura e
Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestre em
Arte e Design para o Espaço Público pela Universidade do Porto.
Seu interesse de pesquisa atual centra-se nos modos de vida
urbanos, sobretudo naqueles invisibilizados pelas representações,
memórias e narrativas dominantes. Seu foco está nas práticas
cotidianas, nos microterritórios e nas micropolíticas. O estudo
das imagens tem sido relevante para compreensão dos territórios
urbanos em estudo.