Contra Cidades: Territorialidades Transatlânticas Disporicas

Priscila Musa , Carolina Anselmo


Palavras-chave: Imagem; Memória; Cidade

Participação: on-line

A produção e a circulação de imagens colonizadoras é um dos dispositivos que contribuem para naturalizar o modelo normativo e hegemônico de vida e de cidade. A abundância dessas imagens produzem subjetividades e privilegiam a apreensão e percepção do mundo por meio de formas de representação que soterram existências, saberes e espacialidades. São muitas as imagens que movimentam os desejos, condicionam os modos de ver e criam um solo impermeabilizado onde se ocultam os muitos tipos violências: genocídios, etnocídios, epistemicídios, ecocídios, urbanicídios.

No entanto, fora ou para além das cidades normativas existem, em diversos territórios, os povos que sobrevivem de forma menos, nada ou contra-predatórias ou pertencem a epistemologias avessas. Povos estes que reexistem ao longo de séculos de construção e perpetuação das distintas formas dominantes de poder. São e produzem as imagens insurgentes, dissidentes e discordantes. Imagens potenciais (AZOULAY, 2018)1 que movimentam a política, o sensível, rompem com o ordenamento e a distribuição policial do mundo e criam um espaço específico de partilha, onde se pode ver o que não era visto, onde se pode apreender o que não podia ser apreendido (RANCIERE, 2009)2.

A partir das reflexões por imagem que a dançarina Ana Pi desenvolve no pequeno vídeo-pesquisa “PPP_Nós somos o centro”3 colocamos em paralelo algumas imagens fotográficas e imagens narradas produzidas no contexto europeu e latino americano, mais precisamente o acervo coletivo produzido por Valéria Borges, moradora da Favela Pedreira Padro Lopes em Belo Horizonte, Brasil e outros da freguesia de Marvila, Lisboa, Portugal. Pretendemos refletir sobre as transformações urbanas e sociais presentes em ambos territórios e suas relações com as memórias e esquecimentos envolvidos nas experiências liminares e configurações de microterritórios de resistência (FORTUNA, 2012). O objetivo é movimentar e visualizar os links transatlânticos que unem as praticas espaciais daquilo que ocupa o dentro-fora da cidade, o dentro-fora do centro, o contra-colonialismo (BISPO, 2015)4. As espacialidades distantes que se conectam nas imagens, nas suas narrativas e na luta por pertencimento, por memória, pelo direito a cidade e a vida.


Referências


AZOULAY, Ariella Aïsha. (2014) Historia potencial y otros ensayos. Ciudad de México: Conacultura.
CUSICANQUI, Silvia Riviera. (2015)Sociología de la imagen : ensayos . - 1a ed. - Ciudad Autónoma de Buenos Aires : Tinta Limón.
KILOMBA, Grada. (2019) Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Editora Cobogó.
RANCIÈRE, JAQUES; tradução MARQUES, ngela (2021). O Trabalho das Imagens Conversações com Andrea Sonto Calderón. Belo Horizonte: Chão da Feira.
SANTOS, Antônio Bispo. (s/d) Quilombo Modos e Significados. Saco/ Curtume - São João do Piauí – PI.


Bio


Priscila Musa é fotógrafa, arquiteta e urbanista. Conflui em quatro coletivos que abordam suas inquietações sociais de diferentes formas, abrangendo desde o futebol de rua - como incentivo à ocupação do espaço público - até a fotografia e o cinema – potencializadora das dissidências sociais e das desobediências de gênero. Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG (2017), Mestre pelo mesmo Programa (2015). Pesquisa historiografia urbana, a produção de imagens e memória a partir da perspectiva de outros saberes, da periferia e dos movimentos sociais. É integrante do grupo de pesquisa Cosmópolis, da Associação das Arquitetas sem Fronteiras Brasil-ASF BRASIL e do Espaço Comum Luiz Estrela.
Carolina Anselmo é doutoranda do programa Cidades e Culturas Urbanas, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. O programa está integrado no Centro de Estudo Sociais e sua investigação é financiada pela FCT. É graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestre em Arte e Design para o Espaço Público pela Universidade do Porto. Seu interesse de pesquisa atual centra-se nos modos de vida urbanos, sobretudo naqueles invisibilizados pelas representações, memórias e narrativas dominantes. Seu foco está nas práticas cotidianas, nos microterritórios e nas micropolíticas. O estudo das imagens tem sido relevante para compreensão dos territórios urbanos em estudo.


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