O axé nos axós das fotografias decoloniais dos candomblés

Aymê Okasaki


Palavras-chave: candomblé; traje; fotografia; decolonialidade; racismo religioso

Participação: on-line

O pensador ganês Appiah aponta que “as pessoas na periferia sabem tudo sobre a respeito das pessoas do centro; as pessoas do centro não sabem coisas sobre as pessoas da periferia”. Esta é uma fala importante para a compreensão das diferenças entre os referenciais de imagens sobre as “(ex-)colônias”. A proposta deste trabalho é apresentar quais seriam estas diferenças quanto à produção imagética dos candomblés, feitas por fotógrafxs negrxs candomblecistas. O registro de imagens nos ritos dos candomblés por décadas foi realizado, em grande parte, por pesquisadores (médicos, antropólogos), pela mídia e até mesmo por instituições policiais ou governamentais, “exotizando” e criminalizando a visualidade das comunidades tradicionais de terreiro. Contudo, os movimentos negros, especialmente após as décadas de 1960-1980, vêm atuando fortemente na produção decolonial desta visualidade; auxiliados em grande medida pela organização facilitada nos meios digitais, no qual fotágrafxs e a comunidade de terreiro podem compartilhar as imagens que eles próprios produzem, com seus olhares e seus códigos litúrgicos. O candomblé é uma religião afro-brasileira que possui ritos internos, que podem ser presenciados apenas por determinados adeptos, seguindo a hierarquia e fundamentos da casa de candomblé. Ao longo das décadas, em especial no século XX, com a maior presença das máquinas fotográficas por pesquisadores e jornalistas, diversos ritos internos foram registrados e amplamente publicados para o público geral, como o caso de José Medeiros, em 1951, que fotografou uma iniciação no candomblé, no qual as imagens estamparam a reportagem sensacionalista “As noivas dos deuses sanguinários”, no jornal O Cruzeiro. Em contraposição à estas produções, temos os trabalhos de contemporâneos como Roger Cipó, Yuri Rettoro, projeto Negro como Soul entre outros, produzidos por fotógrafxs negrxs do candomblé, que contribuem para uma visualidade de combate ao racismo religioso. Nesta análise das fotografias de ritos públicos do candomblé, um aspecto será analisado com maior atenção: os trajes. Por meio das roupas, adornos e paramentos que vestem as divindades e todos em um terreiro, é possível identificar hierarquias, mitos das divindades e a história daquela comunidade tradicional de terreiro. Entendendo os trajes como uma ferramenta identitária e a fotografia como uma comunicação visual, este trabalho se apoia em referenciais que partem dos próprios terreiros - Sylvia de Oxalá (1980) e Sidnei de Xangô (2020) -, de pesquisadoras negras – Negreiros (2017) e Santos (2020) -, além de referencial sobre os estudos dos candomblés contemporâneos – Prandi (2020).


Referências


Bio


Aymê Okasaki é docente de modelagem e disciplinas dos cursos de bacharelado em Moda, na Universidade de Sorocaba e Athon Sorocaba. É mestra em Têxtil e Moda (Universidade de São Paulo), com bolsa CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), investigando arte-educação e estamparia. É bacharela em Têxtil e Moda (Universidade de São Paulo), realizando iniciação científica Pibiq (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica), analisando as fotografias da Bahia-Brasil, feitas por Pierre Verger. Atualmente, é doutoranda em História Social (Universidade de São Paulo), pesquisando os trajes dos candomblés de São Paulo-Brasil. Faz parte do grupo de pesquisa Fayola Odara – estéticas africanas e afro-diaspóricas no vestir, registrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Em 2022 é pesquisadora convidada no Departamento de História na Universidade de Hamburgo e também palestrante convidada na Universidade Harvard, para o Segundo Encontro Continental de Estudos Afro-latino-americanos ALARI.


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